23 de janeiro de 2018

O profeta na noite

Chove.

Eis que a morte espalha medo e mágoa até nas feras
enrolando seus cabelos na água desabada em cólera.

Olhem:

dentro dela alguém cavalga rasgando véus soturnos
sob a lâmina do cajado puro que é sua flâmula e luz.

Troveja.

As montanhas se destacam desse negror tempestuoso
quando o raio feito osso rasga as entranhas da noite.

Vejam:

as torres longínquas tremeram ao sinal adormecido do
golem cujo destino é guardar o tempo no fundo do mal.

Venta.

Quem é esse que voa sem ter asas trazendo iluminadas
brasas na boca para que purifiquem sua língua seca?

Vejam:

o cavalo sob o ancião rasga a noite para fazê-la dia.

Troveja.

O profeta em sua montaria mescla o trovão à sua voz.

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