12 de janeiro de 2018

Lavrador

Você vai morrer. E os reis vão morrer.
Morrerão as leis, morrerá quem já morreu.
Os miseráveis também, e entre eles
eu. Porém, de nós, quem já é íntimo
do chão? Quem lavra com suor
a terra promissora de pão?
Todo homem sem calos
toda mulher sem dedos ásperos
está mais distante desse pó que é pia
batismal onde me banho e purifico
longe desse resquício marceneiro
crístico e longe desse brilho.
Das quinas, então, desses calos santos
sedimentos eu te canto: quando
for a minha hora
ao menos eu mesmo
terei cavado minha própria cova.

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