29 de maio de 2018

O Templo

O trabalho que soergueu o templo
pondo sobre nossos ombros largos
o beijo celeste de telúrico emprego
em vão sobre os dedos rindo calos
derramou do altar nossos pássaros
os vincos azuis de marmóreo beijo
às mãos templárias o furto bárbaro.

Que furtem ainda mais ouro!
Que rasguem nossa flâmula!
Nunca farão a Luz ser fosca
nem poderão rasgar o Fogo.

27 de maio de 2018

Jesus

Seu nome é Sol, seu nome é Água, seu nome é Pássaro
e no seu nome está tudo quanto é mais simples e puro

No entanto Deus de saber tudo soube
que precisaríamos distinguir as coisas
pelo nome e o chamou assim entre nós
para que não o confundíssemos
com o Sereno, com o Vento
com a Estrada, com o Fogo

Para nosso júbilo o Senhor dos Exércitos
mostrando sua face de Príncipe da Paz

19 de maio de 2018

Reclamação no banquete dos fofoqueiros

Que se desbrave os campos do escárnio
Acidez e orgulho que se rumine amargo
Das pastagens do horror que se adentre
Heroico na antecâmara à morte o ventre
Que se cante uma nova epopeia a tempo
De enaltecer forte uma renovação dentro
Que se faça a alegria de muitos de todos!

Dirão contra. Falarão mal. Vocês apontando
independente do agires. Serão os dedos (ou
serão as mãos?) serão os dedos dos juízes?

18 de maio de 2018

Véspera de cerco

A menos que a montanha defronte
à ala destra do nosso forte nos olhe
e de abaixar seus olhos à nossa face
veja o medo tido à trombeta inimiga

pouco restará de nós, após a vigília
nada restará de nós, após a investida.

A menos que o sol vitorioso acima
encare o exército que se aproxima
e condoído lance fogo pelos dedos
e desconjunte a instalação do cerco

morreremos. Mas
se dentro restar o bom ânimo do Puro
de se ser vencido para vencer o mundo
dentro haverá paz.

13 de maio de 2018

Senda

Os porcos não configuraram um lar
Quando entre eles habitei queda e exílio
Mesmo que um estômago estufado eu tivesse
Mesmo jazendo embriagado e seguro
Mesmo que de segurança caiassem a fala
Me chamando irmão não sendo

Os leões configuraram um lar
Quando neles medrei amor e destino
Mesmo que desraigado errasse alcateias
Mesmo que tempestuosos me rosnassem
De luz imerecida rungindo nenhum chamado
Não chamando irmãos mas senda

10 de maio de 2018

Meus poemas têm uma serenidade
que não tenho ao escrevê-los, um lobo
ofegando dentro à véspera do ataque
mas fora silente prevendo o posterior
fim da fome.

5 de maio de 2018

As paredes rendas de intrincados visgos
que fizeram deste jardim um labirinto
cresceram sozinhas. Quem saber pode
o que vicejava em nós enquanto isso?
Não perceber o ponto entre estar jovem
e de repente: envelhecido. No centro
morno da mão jardínea a fonte, nela
em nós, jorrando amor, ódio, amor
e outros vinhos.

1 de maio de 2018

Raiva de criança

Têmporas rangendo uma ofensa. Dura pouco, pois logo o sorrisinho perdoante e após lágrimas. Dura a vida toda, pois todas as idades vivem no menino, nem que só lembrando as circunstâncias do mangueiral. Mas: todas as raivonas posteriores dentro dessa raivinha.