ir vivendo com muitas gentes
olhando fundo no oco das faces
fragmentou musculares ossos
até os caroços da paciência
onde o aonde do deserto
que fale o não ouvir?
28 de abril de 2018
23 de abril de 2018
Em 2050
a repetição do fracasso
essa circuncisão pagã
marcou minha geração
no aço do nosso amanhã
tivemos ossos de traça
em musculatura leonina
olhos nublados de nada
na caça por ricos dias
fracassamos e logo após
a última selfie nós
então morremos
engendramos mil venenos
suicídios filmados a tiros
porque morte maior seria
não sermos vistos
essa circuncisão pagã
marcou minha geração
no aço do nosso amanhã
tivemos ossos de traça
em musculatura leonina
olhos nublados de nada
na caça por ricos dias
fracassamos e logo após
a última selfie nós
então morremos
engendramos mil venenos
suicídios filmados a tiros
porque morte maior seria
não sermos vistos
22 de abril de 2018
Melancia
De observar os dedos que pressionam
a força na couraça verde da melancia
aprender porque a secura dos calos deles
não desfaz o viço no rubor interno nela
e ter
armadura verde murada
fora
e ser
fértil latejante hidratado
dentro.
a força na couraça verde da melancia
aprender porque a secura dos calos deles
não desfaz o viço no rubor interno nela
e ter
armadura verde murada
fora
e ser
fértil latejante hidratado
dentro.
18 de abril de 2018
Pomar
para Michele Marcial
Sóis já vi muitos, mas teu coração?
Inédito mesmo se sob a atenção de quem semeia.
Céus já vi quantos me alegraram, e águas
e frutos de sorvê-los calejei minha ternura
mas teu beijo? Tenho quase certeza que teu beijo
era em si um universo de relíquias luzes
desde as eras em que todos nós
habitávamos o mesmo colo de nuvens.
E tua poesia? E teu subir árvores? E teu acordar
todas os dias para engendrar a manhã na manhã?
Eles, teus olhos acordando, me contaram ontem
que tigres mansos circulam o pomar
do nosso amor. Castos e sábios castanhos
tigres mansos
no entorno redondo do nosso amor!
Não desacredito.
15 de abril de 2018
A mãe professora e mãe
para Marisa do Carmo Marcial, na ocasião de seu aniversário
Semente semeada em semente
a mãe professora e mãe doada
para si mesma como nutriente
é orando contínuo que colore
o ar nas ensolaradas mil salas
do solo alicerçado em árvores
– e é esculpindo ser mãe na madeira
que lapida ser professora no mármore.
Semente semeada em semente
a mãe professora e mãe doada
para si mesma como nutriente
para a prole similar terra exata.
Pois a semente em si semeadaé orando contínuo que colore
o ar nas ensolaradas mil salas
do solo alicerçado em árvores
– e é esculpindo ser mãe na madeira
que lapida ser professora no mármore.
10 de abril de 2018
Aprendiz
Aprendi que, embora as fêmeas elogiem o mar, do mar não se bebe, no mar não se banha, no mar não se beija. Aprendi que o mal é mau e o bem é bom, mesmo que a ânsia dos arrogantes relativize o caminho e Gomorra se torne a capital do império. Aprendi que ser generoso tem que partir de um porque sim, pois aquele que espera da generosidade uma benesse deve saber que no rosto do generoso se acumulam os escarros da comunidade. Aprendi que a arte é o galho mais altivo da árvore seivosa de conhecer a si e o que nega, nela, a beleza, orbita o próprio umbigo e só. Aprendi que o amor é. Aprendi que o vento sendo tanto pode engrossar mesmo sem chuva a água boa do rio. Aprendi o horror da companhia sobretudo em detrimento ao prazer da solidão.
2 de abril de 2018
Casamento
"A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher." - 1 Coríntios 7:4
As borboletas, duas, perseguiam-se
em cruz. Em cruz, duas, as borboletas
se amavam. Enquanto os ventos
nos ramos desmoldavam as ilhas
de luz sob o sol e sobre o gramado.
Com a nuca em meu peito ela lia
o livro que eu mesmo, também, ia
lendo. Nossos olhos perseguiam-se
às páginas lidas, sem correr, na brisa
que enovelava seus cachos e o tempo.
Havia ali um amor simples e ouro
no enredo, e havia o nosso, moço
mas já grande de violento; e nessa
da tarde os dois, em cruz, íamos
tirando arestas da história, dentro.
As borboletas, duas, perseguiam-se
em cruz. Em cruz, duas, as borboletas
se amavam. Enquanto os ventos
nos ramos desmoldavam as ilhas
de luz sob o sol e sobre o gramado.
Com a nuca em meu peito ela lia
o livro que eu mesmo, também, ia
lendo. Nossos olhos perseguiam-se
às páginas lidas, sem correr, na brisa
que enovelava seus cachos e o tempo.
Havia ali um amor simples e ouro
no enredo, e havia o nosso, moço
mas já grande de violento; e nessa
da tarde os dois, em cruz, íamos
tirando arestas da história, dentro.
Assinar:
Postagens (Atom)