28 de junho de 2018

Carta de amor para o suicida

Sua tristeza, seu rosto, a falta de dinheiro, eu não sei mais quem eu sou. Eu amava o fato de você existir no mundo, mesmo que não viesse me visitar, eu amava que o vento acolhesse feito berço seu hálito no espaço e não o fizesse disperso como o tempo fez. O mangue ainda escorre sob os prédios a serem demolidos, infiltram mofo no cimento um sol loteado e verde. O frio. Mas eu amo ainda, independente da sua morte, a sua vida. Não: haverá o fogo e haverá a água e ser amado será um calor imenso, mas ainda não. Uma torre se ergue imensa dentro de mim, uma torre amadurece em mim a distância murada das nuvens ao sopé frio dela mesma. Não morrerei para compensar na vida o amor que você me negou.

6 de junho de 2018

Água

Sejamos benevolentes
como benevolente é a água
para os campos amenos
que lhe aguardavam

mesmo que inundemos
os campos escandalizados
que não esperavam
a tempestade que formos.

Porque a quem pode amar
e a quem não pode amar
deve ser dado amor

porém somente aos primeiros
as lágrimas que causarmos
serão de alegria.