27 de outubro de 2017

Solilóquio no baquete do náufrago

O amor muito dá, tudo tira.

Deu-me a areia, o engenho
áspero da fogueira e o mar.
Deu-me na espuma o vir ao
lar de sal e a uma nova vida.
Deu-me de não dar, tal vida.

O amor me tirou até
o que eu não tinha.

Pois quando o amor muito dá
é porque logo a falência
tocará sua lira.

O amor e seus olhos. O amor
e sua ira. A boca temporal
que nada diz. Aqui, longe,
porém: estou feliz e melodia.

Mas confesso uma saudade
tempestade de sofrer o vão
onde sou, na ilha.

Pois até isso o amor me levou.
Até a compensação
em haver melancolia.

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