24 de outubro de 2017

Exposição no banquete dos bonachões

Sou como o Bobo a quem permitem dizer tudo, por estar tão próximo da sabedoria quanto o sol está próximo do viaduto. Assim sendo, aproveito para contar do meu jeito um ocorrido de ontem à tarde, de durante a tempestade. Eu ia para uma consulta médica, bem longe de casa. Teria que pegar dois ônibus, ou, como fiz, pegar apenas um e andar alguns quilômetros, poucos e rápidos. Logo que comecei a caminhar, no entanto, trombetas trovoaram e a água me veio. Que chuva! Sempre carrego a sombrinha, então abri suas asas (uma delas: quebrada) bem rápido e fiquei numa boa. Estava no centro da cidade, por isso vi, como os senhores devem imaginar, as pessoas surpreendidas correndo correndo correndo, tendo que parar de correr quando diante de um sinal vermelho. Ora, era uma tempestade! E aquelas pessoas tinham que ficar debaixo dela enquanto os motoristas passavam intactos e eu me resguardava na pequena sombra, esperando o verde pintar no longínquo outro lado da avenida. "Vou oferecer para esperarem comigo aqui embaixo", pensei. E fiquei pensando. O sinal abriu e continuei lá, pensando. Ora! Não riam: é preciso muita coragem para ser bom. Ontem percebi isso. Porque falhei em muitas ruas, ao tentar me aproximar de pessoas encharcadas, para tentar ajudá-las. Então parei para comer uma broa de fubá e tomar um queimado, aquele leite quente com canela, virado para a rua, olhando. Se fosse por mal, seria fácil. Se fosse por vaidade... Bem, é, talvez fosse por vaidade, quando se pensa que estou falando aqui para todos vocês o quão bom sou ao tentar ajudar... Mas vejam: o Homem de Face Serena já se irritava com o filho que diz "irei trabalhar hoje para você, meu pai" e não vai. Quem sou? Pois bem: eu continuei meu caminho, insatisfeito de covardia. Parei em mais um sinal, desistido. As gotas quebravam meu rosto contra o ruído crepitante do asfalto molhado. Olhei para o lado e vi um senhor de muleta, descalço, atravessando entre carros e fora da faixa. Quase atropelado! Fui até ele e o ajudei, dando meu ombro, a secura por alguns minutos, algum apoio. Vejam: não importa o quanto eu quisesse, antes, ter ajudado. Até para isso há momento propício! Porque, enquanto eu o levava, caí e por isso estou com a mão enfaixada.

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