iam, pelo campo, dois irmãos.
Iam, um rapaz e sua irmãzinha,
buscando sombra fresca no sertão.
Ao verem, então, um cajueiro
perto do muro da velha escola
(enquanto suavam, vermelhos
no bafo quente daquela hora)
sentaram na sombra, felizes.
A menina sorriu e o moço disse
apoiando-se sobre a primavera:
"Essa árvore é uma floresta?"
Ao ouvir isso, ela se espantou.
"Floresta, irmão, é muito mais!
É cheia de bicho e tem tanta flor
que de contar a gente nem é capaz!"
O rapaz de novo questionou:
"E aquela família de canários
perto das flores, morando no galho?"
E ela: "Falta ainda mais cor".
"Então me diga: o que é esse lugar?"
o irmão falou, apontando o prédio
algo meio em ruínas e meio em tédios
do antigo grupo escolar.
"É uma escola...", a irmã sussurrou
com pouca certeza, só de ler no muro,
mas corrigiu a si mesma com ardor:
"Pra ser escola falta aluno!
E pra ter aluno, cadê o professor
e quem cozinhe e quem pinte a frente?
Pra ser escola falta coração de gente
secretária, auxiliar e diretor!"
Ela entendeu a pergunta do irmão
e seu olhar mudou em verdes mudas:
é com muitas gotas que se faz a chuva
que cria a colheita para muitas mãos.
Escrevi esse poema ao esboçar um projeto para meus alunos, como estímulo para atividades que pretendo desenvolver com eles. Baseei a simplicidade desses versos em uma divagação exposta por Ortega Y Gasset em "Meditações do Quixote". Em tal obra, com palavras diversas das minhas, ele faz a pergunta que dá título ao meu texto.
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