17 de março de 2018

Perfil

Prata límpida magoada de brejo é
o reflexo lunar no lago e nos olhos
o furor de dois touros (lago e olhar)
o furor adolescente do muito sofrer
crescendo como costelas no dorso
ao norte

Ela vem e lapida uma febre
de castelos escurecidos pelas guerras
ela vem e morde as libélulas restantes
na casa incinera a música no ar ela
(a pobreza) com malícia leonina os
calçados usados sob as barbas do dia

Eu sou um poeta pobre muito pobre
e mais do que de vossos aplausos
preciso pagar o aluguel pois a voz
extravagante que lhes trago só pede
que me paguem algo pelo itinerário
que vos descrevo

Me deem
algum dinheiro

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