25 de agosto de 2017
Confissão no banquete de nós dois
Os unicórnios são poderosíssimas feras prateadas de sonho, muito superiores aos cavalos no que diz respeito ao vigor - porém muito mais frágeis no que diz respeito à beleza. São caçados por sua magia em vastos campos, vencendo armadilhas e ataques cobiçosos contra sua liberdade, sendo ferozes na batalha e ágeis na proteção. Eles, no entanto, possuem a fraqueza dos poetas: os unicórnios se pacificam diante de uma donzela e, tal a ternura, adormecem em seu regaço de fonte. Presa fácil, daí em diante. Eu estava pensando nisso, enquanto você fazia um ninho para os seus dedos com o meu cabelo. Há homens, a maioria absoluta, que por nada deitariam com a cabeça no colo de uma mulher em público, por maior o amor que sentissem. E ali estávamos, sob um ipê em flor, no gramado da praça, onde muitos esperavam o ônibus: minha cabeça exposta no seu colo. Eu derrubei um pouco de cerveja em mim e você me repreendeu, entre maternal e lua. "Você é mais antiga do que ipês, mais antiga do que a morte, a vida e a volúpia acelerada das estrelas", observei de mim para mim, olhando assim, do porto de você. Mais antiga do que a própria noite. Mas eu dizia que estava pensando em unicórnios. Sim. E veio a questão: antes ser um cavalo, fraco onde todos os mortais são, escravo forte pela insensibilidade?, ou ser o heráldico, o grande, o perseguido e forjado com as cordas do sonho, para ser assassinado enquanto adormeço sob as mãos do amor? Você, entretanto, me protegeu - e sobrevivi.
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