23 de dezembro de 2020

Maria, talvez

Maria, com ternura, talvez tenha enrolado
algum cachinho de Jesus entre os dedos
pensando levemente espantada
como um sussurro de águas
em um jarro
enquanto o amamentava

"Eis o Senhor
nos braços
dos meus beijos!"

Com os olhos entreabertos
de amor
e o sorriso terno
satisfeito
Maria talvez sussurrasse

"eis meu Salvador
a quem alimento com o leite
que Ele mesmo criou!"

Talvez Maria
tenha cogitado
o incompreensível
nisso
a loucura de Deus
como está escrito
refazendo, fio de azeite
a linhagem de Jacó
e Davi, em frente
enquanto passava os dedos
pelas bochechas de Jesus
quase dormindo, ressonando
tranquilamente

"Dorme, Senhor meu
meu filho amado
Jesus"
talvez tenha pensado
os olhos úmidos pela graça
Maria tivesse
os olhos molhados de amor
de água, de sal, de tempo
e o coração úmido de luz

2 comentários:

  1. Uma mãe em aleitamento que lê esses versos, não tem como não se emocionar e imaginar os mesmos olhos rasos de lágrimas de Maria ao pensar que o Salvador, tão frágil em sua condição humana e tão poderoso em sua divindade, se entregaria pela humanidade.

    Eu, agora mãe, descompreendo ainda mais o amor de Deus… dando seu unigênito por alguém como eu…

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  2. O Senhor fez algo tão grandioso, tão bonito, que tenho dificuldade em ver com meus olhos humanos a amplitude de Sua compaixão por nós. Tenho muito a agradecer, a partir disso, mesmo que também não entenda ainda completamente a dimensão de Sua Graça.

    "Respondeu Jesus: 'Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá'." (João 13:7)

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