26 de maio de 2021

O Desconstrucionista

Primeiro, me provaram que não sou macho nem fêmea.

Depois, vieram e rasgaram com uma faca sublime o núcleo da minha visão; disseram estar tirando as escamas dos meus olhos. Me provaram que o sol (eu já o não via) não existia e provaram que a boa brisa sobre a pele era a ilusão fascista dos meus sentidos.

Provaram que minha família (meus irmãos, minha mãe) eram estruturas de poder a demolir na minha consciência inferior; seu cão é seu único companheiro, disseram, e me chamaram pai de pet.

Os professores, disseram, são estes que detêm autoridade sobre a vossa moleira rosada: mate a todos!, eles disseram.

Tudo é arte, tudo é cultura, gritaram, arremessando o estrume basilar que fazia parte da melhor escultura do melhor escultor do nosso tempo.

Depois me convenceram a comprar suas aulas, seus discos, seus ritos.

Hoje já está mais do que provado que não existo.

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