13 de agosto de 2024

O elogio das artes: música

Dentro do ventre materno estavas.

Estavas porque você, música, é das artes a única
que mesmo feita fora percebe-se dentro.

O cheiro do som espalha-se através.

Através dos anos.

Através dos muros.

Através da tempestade.

Através, também, das paredes do útero.

Erudita, popular, universal.

Talvez por isso tão torturada, tão retalhada.

Tuas costas em sangue, teu dorso de sonho
rasgado pelos que te cantam sem te amar.

Música, quanto te devo.

Rainha, princesa, prisioneira.

Do desprezo de amor dos ondes.

Do amor de desprezo dos quandos.

Pouco pedes, música, tudo dás.

Embala os órfãos entre os teus seios.

Eu te amo, música, eu te amo de um amor
doente de não poder compô-la.

Em perfume, cordas, sopro, percussão.

Cálices de consolo, de alegria e tristeza.

Nada tenho com o que presenteá-la.

Nada.

Mas tudo o que tenho, música, te dou.

Tudo.

Isto é, o meu silêncio.

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