16 de setembro de 2022

O coiote e o coelho

Estou cansado de trabalhar, disse o coiote, com os olhos perdidos no horizonte, estou cansado de correr tanto caçando pela carne dos coelhos.

Ora, para descansar basta viver das frutas das árvores como eu vivo, disse o coelho, aparecendo rechonchudo ao seu lado, satisfeito como apenas os coelhos podem ser. Basta ser como um coelho.

O coiote, então, pulou sobre o coelho, rápido como apenas a morte pode ser, devorando-o. Bastaria ser como um coelho? O coiote pensou, depois daquele ímpeto. Bastaria ser como um coelho?

Morto eu de fato descansaria, sussurrou para si mesmo o coiote, sorrindo, satisfeito como apenas um coiote pode ser.

11 de setembro de 2022

Nomes para o trio

Rio

Porque o ideograma
japonês para rio
são três linhas
de nuvem bordadas
no céu roxo anil.

Bordado

Porque entre
o arco do cello
e a baqueta do ritmo
a voz é o istmo:
agulha, linha, tecido
do que tenho sido.

Trem

Em Minas
tudo é trem.
Tudo incluso
trio também.

6 de setembro de 2022

A árvore da minha geração

Esta é a árvore da minha geração.
Folhas caem, raiz seca-se
o caule jaz retorcido e triste.
Mas desta árvore que somos
espera-se frutos - como se
por espera haver
não nascessem, tristes, os frutos
desempregados de sumo
depressivas suicidas as folhas
de tanta espera alheia a lhes pesar.
Esta é a árvore da minha geração.
"Mas a terra é boa", dizem os antigos.
"Mas há chuva", dizem os antigos.
"Por que está morrendo?"