17 de agosto de 2024

O elogio das artes: literatura

Se o mundo fosse jardim, cada um pensaria ser a flor única.

Se o mundo fosse tessitura, cada um pensaria ser o fio de ouro
entre tantos fios de algodão cru.

Por isso, literatura, teu é o reinado das artes.

Porque és o espelho que veste a todos de protagonista.

Porque és o espelho que veste a todos de musa.

Porque há vaidade, literatura, e a tua nobreza é dar de beber a todos
os que quiserem da água do sonhar ser.

Tua é a razão de haver heróis.

E canções, histórias, pinturas, esculturas sobre eles
que queríamos sermos nós.

Tua é, enfim, a razão da haver musas.

E por ti tantas vidas sonhadas passaram a existir. 

Do exagero, da palavra, do entusiasmo de estar vivo.

E saber-se um dia morto.

Sendo a vida cotidiana menor do que a vida imaginada.

Literatura, mentira não nos contaste.

Mas fantasia nos deste.

Todos os meus músculos, que são reais, estremecem
diante de tua voz solar.

A fuligem da história, a lâmina da rima, o chover do ritmo.

Todos os meus músculos tornam-se os fios de ouro
que eu, se o mundo fosse tessitura, pensaria ser.

Teu é o reinado das artes.

E sob teu cetro prosa e tua coroa poesia
marcham as demais artes.

Sonhando pela tua língua serem lembradas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário