27 de novembro de 2022

A caça ao poema

No Reino do Indescritível
com sua aljava de palavras
eis o poeta e eis o cervo
eis as setas, o arco, a caçada

Não persegue por esporte
o poeta ao tropel de patas
persegue por fome e medo
de morrer sem caçar nada

No Reino do Indescritível
com seus risos de batalha
eis o poeta e o poema, cervo
alimento, troféu, galhadas

Os chifres cortam o vento
e este vento corta a mata
atrás o nenhum guerreiro
ofegante poeta erguendo
a sua língua de espada

12 de novembro de 2022

Carta caso eu morra hoje

Olá! 

Se você me odeia, fique alegre: minha presença no mundo não irá mais te importunar.

Se você me ama, fique alegre também. Porque vou para o Senhor que me salvou e eu não poderia estar em melhor companhia.

Assim, que minha morte seja um cálice de alegria, se possível.

Aos que tiverem saudade, deixei o meu coração para vocês no muito em que tenho escrito. Visitem meu livro mais recente, esta lã de sal, ali há uma boa parte de mim; há muito mais que, buscando, vocês hão de encontrar, nas obras que deixei completas e nas que ficaram inacabadas.

Se você tem uma ferida que causei, peço perdão.

Aos que quiserem pedir perdão a mim sem que eu esteja aqui para responder, saibam que estão todos de antemão perdoados.

A existência de um ser humano é, afinal de contas, algo bastante rápido para que haja ressentimentos.

Mas é bom ter estado com vocês, fui feliz como uma árvore em um dia de sol após uma noite de chuva.

Em relação ao meu corpo, se possível, doem todos os órgãos que forem úteis para os hospitais ou universidades.

Se não for possível, porém, não se preocupem: já não estarei aqui para reclamar e, mesmo se estivesse, não reclamaria disso.

Não precisam visitar o meu túmulo, caso eu tenha um túmulo, nem participarem do meu velório. Leiam os meus textos, no lugar disso, caso queiram se lembrar do que eu fui.

Vejam bem, pessoas muito mais nobres do que eu já morreram. Não seria uma desfaçatez da minha parte viver indefinidamente nessa terra?

Lembrem-se que eu escrevi essa carta sorrindo e que, principalmente, a vitória do amor é inevitável - a despeito das investidas constantes dos filhos da ira.

Que a paz esteja com vocês!

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus." (João 3:16-21)