22 de junho de 2025

Breves cartas aos ansiosos: carta 3, raízes

O medo de perder o emprego pode significar trabalhar mais pelo mesmo salário. A angústia de existir em vão pode significar muitos gastos em experiências que provem o "aproveitar a vida". O receio de ser comum pode significar o financiamento de um carro mais invejável.

Como visto, a existência de sua ansiedade pode interessar a muitos. Pode fazer muitos lucrarem. Assim, aqui está uma breve pergunta a ser feita: a minha ansiedade é mesmo minha? Há muitas ansiedades fabricadas em estúdios de publicidade, agências bancárias e reuniões de Estado-Maior.

Quem sabe se, devido à baixa taxa de natalidade, não veremos cada vez mais pessoas angustiadas por não terem filhos? Talvez a preocupação em não ser suficientemente revolucionário até se torne uma síndrome e ganhe um nome. Já nos fizeram crer que somos responsáveis por salvar o mundo; faltou, junto à crença, vir o poder de fazê-lo.

É muito valioso que haja angustiados, pois com isso busca-se preencher espaços internos com o consumo desesperado de um novo rico a mobiliar a sua imensa primeira mansão. Desse modo, aqui vai outra pergunta a ser feita: quem sai ganhando se eu regar as raízes de plástico da minha ansiedade? 

Conhecer-se a ponto de saber se a dor é realmente minha ou apenas o mote de algum slogan está no cerne das respostas a essas perguntas. Para tanto, pense com amor sobre essa ansiedade. Saiba que conscientemente conhecer a artificialidade de uma dor é um excelente começo para extirpá-la.