31 de maio de 2025

Breves cartas aos ansiosos: carta 1, órbita

"O meu caminho eu sei, mas eu não sei qual é o seu. No universo tudo voa, tudo parece balão."

Assim diz um trecho de uma canção chamada Herói das Estrelas. O personagem que dá nome à música diz isso para o Anjo Astronauta, outro personagem. 

O meu caminho eu sei. É? Você sabe o seu caminho? Sim, não? E você sabe que, apesar de no universo tudo voar, tudo parecer balão, os corpos celestes têm o seu próprio caminho? Há algo chamado órbita.

Órbita é o caminhar que algo faz em torno de outro algo. Ao longe, à primeira vista, tudo parece caoticamente voar, tudo parece balão... Mas, se pudéssemos perguntar a um planeta se ele conhece o seu próprio caminho, ele poderia responder que sim, claro, é a minha órbita!

Então, qual é a sua? Mesmo que você não a conheça, ela está ali, encurvando seus passos, fazendo seus pés comporem um arco. Parte da sua angústia, talvez, venha de não conhecê-la. Por quê? Porque um sentido estável é um consolo às inconstâncias da vida, uma órbita (uma razão de ser) é algo que firma seus olhos ao encontro do que realmente importa.

"É que pra mim, Anjo Astronauta, só me interessam os caminhos que levam ao coração", continua, na música de Mautner, a fala do Herói das Estrelas. Esta é uma excelente órbita pra se ter. O amor é, afinal de contas, o grande orquestrador que faz tudo o que é importante orbitar a sua volta.

"O amor que move o sol e as outras estrelas", assim Dante termina a Divina Comédia. Assim não poderia vir a terminar a sua ansiedade?

22 de maio de 2025

Admiração

A carta úmida que há em teu olhar, amor, contradiz
a secura que sinto na boca entreaberta de te admirar.

É como se do rio dos sonhos viesses, amor, à raiz
árida do que sou, para trazer água de novas preces

e, com chuva ao que nunca nublou, dar esperança
de amor, amor, ao que nunca coisa alguma esperou.

16 de maio de 2025

Ode ao influencer

São doces
meus pensamentos
porque em mim é
indimensionado
o que desconheço.

Existo:
tenho dois olhos
e os mexo. 

Existo:
tolo, sorrio 
e pouco penso.

Mas sou sucesso!
Isso compensa
dos meus passos
os tropeços.

15 de maio de 2025

Lamento no banquete dos modernos

Agora, um brinde.

Pois apesar das modas
diferentes
algo permanente
existe.

Agora
então
um brinde.

Há tanta novidade no mundo
mas o mesmo grito surdo
há no fundo de todos
os desejos: ser amado
ainda é
o último humano
anseio.

O bebê foi substituído
o céu foi substituído
a beleza foi substituída
e o beijo.

As casas foram substituídas
as árvores foram substituídas
os inícios foram substituídos
e os meios.

Porém o fim
irmãos
é o mesmo: ser amado
ainda é
o último humano
anseio.

Mesmo a quem irrite
a necessidade do amor
persiste.

A mendicância do amor
irmãos
persiste.

Isso não merece
então
um brinde?