3 de dezembro de 2025

Breves cartas aos ansiosos: carta 9, riacho

Não deixe os seus traumas ditarem o seu pensamento, nem os seus medos anteciparem a realidade de problemas hoje inexistentes.

Havia um riacho, no caminho dos viajantes. Eles estavam há muito tempo na estrada, cansados e sedentos. Quando ouviram o som de suas águas, correram até ele, extasiados.

Chegando, ajoelharam-se diante do riacho, dele beberam e próximo a ele descansaram. Depois de um tempo ali, renovados, decidiram que era momento de seguir viagem.

Um deles, de tamanha felicidade, começou a chorar, conforme se afastava do som pacífico de haver riacho. Isso perturbou um dos seus colegas de jornada.

"Por que você está chorando?", perguntou o que se perturbara.

"De alegria por não ter mais sede", disse o outro.

"Use sua alegria para guardar a água que acabou de beber, não para jogá-la fora. Na sede de amanhã você pode se arrepender de gastar as lágrimas de hoje", falou, sério, o primeiro.

"A sede amanhã será saciada com a água de amanhã, assim como a sede hoje foi saciada com a água de hoje", falou, sorrindo, o segundo.

Então, seguiram viagem.

Prudência é algo importante, mas não faça da prudência a sua sempre presente razão de desconforto.

O trauma, que gerou medo, hoje nomeia a ansiedade pelo amanhã que ainda não existe. Lembre-se: a sede hoje é saciada com a água de hoje, a sede amanhã será saciada com a água de amanhã. E a sede de ontem já foi vencida, pois você sobreviveu a ela.

Basta a cada dia a sua própria sede.