"E se o pior acontecer?"
Há muitos dias lindos que parecem se tornar feios imediatamente após essa pergunta.
"E se o melhor acontecer?"
Por outro lado, há muita beleza que parece surgir nos piores dias após essa outra pergunta.
Porém, as duas são apenas isso: perguntas. Estes hipotéticos dias melhorados e piorados nada mudam, a não ser nós, dentro deles, e a nossa percepção do que eles possuem.
Pessimismo, o vento que profere a primeira interrogação, é o caminho mais curto para parecer profundo. Por isso mesmo, naturalmente, é um caminho artificial para alcançar a profundidade. Muitas pessoas que consideramos inteligentes são apenas pessimistas. Fazem com que vejamos o pior até então não teorizado, de forma a acreditarmos que o pessimista vê uma "verdade oculta".
O otimismo que gera a segunda pergunta é diferente. Também parece ver o que está oculto à realidade, mas seu efeito é o contrário: ser otimista é um dos caminhos mais curtos para parecer tolo. O pensamento deslumbrado e o rosto alegre de quem imagina uma situação positiva adiante são símbolos de quem não parece ver o risco iminente. Muitas pessoas que consideramos tolas são apenas otimistas.
Pessimismo e otimismo não são iguais, mas ambos geram angústia.
O pessimismo angustia porque distorce negativamente uma realidade que é cruel, mas que nem sempre está banhada em crueldade. Ser pessimista é sofrer antes do sofrimento (por prever que sofrerá), durante o sofrimento (por estar sofrendo) e após o sofrimento (por ter sofrido).
O otimismo angustia porque distorce positivamente uma realidade realmente possuidora de beleza, mas que é dura. Não se preparar antes de sair de casa para a tempestade que vai cair em poucos minutos é se angustiar por estar encharcado, logo mais. O otimista só sofre quando cai do cavalo. Mas parece cair do cavalo, por falta de preparação, mais vezes.
Tudo bem, e agora? Acredito que a solução pra esse impasse, de vermos menos ou vermos mais do que existe, não é apenas vermos as coisas como elas são. Afinal de contas, isso é praticamente impossível: cada um imprime ao mundo o seu modo de olhar, distorcido por sua própria história.
O caminho está em reconhecermos a instabilidade do real. As coisas mudam o tempo todo, há beleza e há dor. Há noite, dia, noite de novo e também há eclipses que são noites dentro dos dias. Se o que vemos é a sucessão de mortes que chamamos vida, preparemo-nos para a impossibilidade de estarmos sempre preparados. Prepare-se para a vida com o coração aberto de quem às vezes vai exagerar para mais, às vezes para menos, mas sempre consciente da própria inconsciência em relação à totalidade.
E como fazer isso? Na minha opinião, com amor à realidade e à multiplicidade inerente a ela. Amor, isto é, o sentimento positivo em relação ao outro, ternura desinteressada, curiosidade alegre, forma de parecer tão sábio quanto tolo.
Assim, a ansiedade terá o mesmo caráter pontual do eclipse: acontece, mas é tão raro quanto passageiro.