6 de setembro de 2025

Breves cartas aos ansiosos: carta 6, rosas

Você não é um gênio. Não há, em sua individualidade, nada que sirva de fato à criação de algo verdadeiramente novo e revolucionário. Isso te ofendeu, por ser calunioso? Se ofendeu, não deveria: mesmo eu não conhecendo os olhos que passam agora pelas palavras aqui escritas, sei que provavelmente não são os olhos de um gênio. "Provavelmente", inclusive, é uma bajulação com o improvável, considerando ser praticamente nenhuma a chance desse texto ser lido por algum gênio. Os gênios são figuras raríssimas, ainda mais raramente reconhecidos dessa forma enquanto vivos.

Então, se você não é um gênio, por que se ofende tanto em ser comum? Qual a razão para se angustiar tanto com isso? Porque, se você não é um gênio, você é comum. Qual o problema? Uma marca pode fazer você crer em algo diferente, propagando que você é individualmente precioso por usar um tênis (vestido por outros milhares) ou uma ideologia (vestida por outros milhões), mas isso só é crido tão facilmente por alguém comum. Seu cabelo é rosa? Seu rosto é harmonizado? Você é rico, pobre, alto, baixo? Nada disso faz de você um gênio - embora possa fazer com que, entre outros comuns, você brilhe mais.

E daí? Por que se angustiar tanto com isso? Há muita ansiedade nascida do desejo de se destacar, ironicamente causando o efeito contrário, criando uma massa de indestacáveis. Como as modas são custosas às individualidades! E, no entanto, são chamadas de modas os produtos mais vendidos como produtores de individualidade. 

Você não é um gênio. Não se ofenda com isso. Ser comum é ser livre da necessidade da vida como obra, algo que a tantos gênios destruiu ao longo de tantos séculos. Descubra quem você realmente é, sobretudo, e viva sob essa medida, não sob a medida do que você finge ser. "Rega as tuas plantas, / Ama as tuas rosas. / O resto é a sombra / De árvores alheias" - como escreveu, certa vez, um gênio, morto hoje como quase todos os de sua estirpe.