5 de outubro de 2024

O fim do imaginário

Imagino angustiados e gordos
meus contemporâneos futuros
sem poesia, filhos, trabalho
robôs escorrendo simpatia
inútil a eles pelas esquinas

Compaixão um pouco
sinto ao imaginá-los
na epidemia de suicídios
dentro de elétricos carros
o fim dos museus, ocos
muitos olhos fechados
depressivos e gordos
ante o fim do imaginário

3 de outubro de 2024

Despedida

Farei da tua voz um hino distante para a minha alma cansada
e peço, amada, que eu mesmo seja isto em teu coração.
Não mais que uma voz de águas sobre a terra árida
ou o descanso da luz que pousa doce sobre teu hálito.
Não mais que um cálice de memórias sem nódoas
ou as mãos macias das velas acesas sobre o pátio.
Peço que penses em mim do modo como ali vimos as nuvens
admirando nelas o que era momento de lua e tempestade.
Então serei para ti aquilo que és para mim, a chuva.
Pois para mim teu riso manso é o orvalho do alívio
e o vento a espalhar flores brancas sobre os ombros da noite.
Pois em mim teu olhar sempre será o perfume do relâmpago
e teu gesto calmo, em meu âmago, sempre um cântico terrível.