31 de julho de 2024

Hoje faz 10 anos que publiquei o meu primeiro livro. Eu tinha 19 anos e aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Desde então, no que diz respeito ao meu trabalho como escritor, publiquei mais quatro livros. Embora esse primeiro livro tenha sido um fracasso de público, assim como todas as minhas obras posteriores até hoje, fico feliz ao relembrá-lo.

Isso faz dele, contraditoriamente, também um grande sucesso, já que publicar foi a materialização entre capas daquilo que faço e continuo a fazer por amor.

O volume 2 dessa mesma obra, inclusive, é dedicada para meu avô Luiz e para minha avó Teresa, que faleceria poucos meses depois, ainda em 2014. Por amor escrevi e dediquei a eles, como por amor se deve viver.

Relendo-o, não o considero um bom livro. Mas considero bom ter acreditado nisso que existe em mim, não como um hobby, nisso que existe em mim como trabalho, razão, vida e amor: escrever.

Parabéns, primeiro livrinho. 


28 de julho de 2024

O chá no domingo à noite

O chá é uma espécie de beijo
desde que se soprado arome
descanso no morno silêncio
e que a ele também se some
uma noite de clima ameno
- noite, a espécie de beijo
feito de melissa ou medo
quando nela percebemos
o tempo que foi perdido
com o medo
de não perdermos tempo.

23 de julho de 2024

Humanos todos quase são poças

Rasas, rasas, pequenas
ou grandes, as poças
desconhecem asas
a não ser quando
refletem-nas
sem pensá-las.

Poças, poças, se pisadas
turvam-se e enxaguam
pés e patas, turvam-se
quando cospem-nas
também as bocas.

Humanos, húmus
rebanho, todos
quase são poças
(poucos os poços)
poças pisadas, rasas
insensíveis mesmo
se as asas do céu
elas refletem
pois sem de volta
olhá-las.

20 de julho de 2024

O senti nela

Toda noite é o fim do mundo.
Toda manhã, o seu recomeço.
Bandeiras tremulam no escuro.
Trovejam. Cantai, eu adormeço.

Toda noite é o fim do mundo.
Toda manhã, o seu recomeço.
Espadas inúteis contra muros
são meus olhos nos imensos

abismos da noite, tão fundos
e feitos de solidão, silêncio.
Toda noite é o fim de tudo.
Mas da manhã ela tem medo.

9 de julho de 2024

O não ser lido

Mesmo se não houvesse portos
os navios existiriam, porém
também aos portos eles rumam.

Mesmo se não houvesse ouro
os adornos brilhariam, porém
também pelo ouro eles brilham.

Mesmo se não houvesse outros
eu ainda escreveria, porém
também para os outros escrevo.

Quais outros?
Qual ouro?
Quais portos?

Teu é o dia e tua é a noite, Senhor.
A mim coube apenas escrever.

5 de julho de 2024

Oratórios Ipês

Eu quis adornar de palavras
o meu país pra quê? Já há ipês.
Em dificuldades de pouca chuva
o ipê em vendavais flore, embora.
Finais de junho, às vezes, pipas
decorando árvores quase secas.

Eu quis fingir flores na língua.
Pra quê? Há ipês. Alguns
rosa-melodia, cor no beijo
da esposa, outros ouro-sim
ou branco-sal e roxo-sol.

Ipês (vivos) faço de oratório.
E agradeço no haver ipês
o anúncio de Deus haver
quando neles ajo meus olhos.